Uma grande amiga minha acabou de terminar um longo relacionamento. Conversando informalmente com ela, fiz uma série de reflexões: o que é pior? Terminar uma relação ou ser surpreendido com a outra pessoa terminando? Qual amor vale mais?
Após anos pensando e repensando uma relação que parecia não sair do lugar, uma grande amiga minha decidiu, segundo ela, “ser justa consigo mesma”, com seu namorido (eles moravam juntos, mas não eram oficialmente casados) e deu um fim no relacionamento deles. Foram 12 anos, e por mais que aquele gosto amargo do rompimento ainda estivesse tão presente, ela está convencida de que tomou a decisão correta.
A relação foi terminada no domingo passado, e desde então, ela já chorou, se achou a pior pessoa do mundo, sentiu alívio, desespero (por não saber se encontrará alguém tão bom quanto ele), conversou com uma amiga que aprovou sua atitude, com outra que, estando solteira, a assustou com a forma como as pessoas solteiras se relacionam hoje em dia... E após escutar tudo isso dela, me surgiu essa dúvida: o que vale mais? Amar ou ser amado(a)?
Pedi para minha amiga definir em poucas palavras o seu ex, e ela o definiu como um homem extremamente bacana, sério, fiel, respeitoso, bonito, maduro e com planos reais a longo prazo. Então, por que terminar com um “partidão” desses, se muitas mulheres sonham com um cara com esse perfil? “Faltou um algo a mais", disse ela. E o que seria esse algo a mais? Aquele nervoso do início do relacionamento? A atração física na deliciosa fase das descobertas nas primeiras relações sexuais? O imprevisível? Como assim? Depois de 12 anos, quase tudo se torna previsível. E não dá para manter uma relação com a mesma pegada dos meses iniciais, isso é utopia. Quem buscar outra pessoa sempre que sentir falta dessas coisas nunca será satisfeito(a) amorosamente.
Quando pedi para ela falar sobre o início do relacionamento, seus olhos brilharam e ela sorriu instantaneamente: os dois se conheceram na praia por causa de amigos em comum, começaram a namorar aos poucos, moraram juntos, se separaram durante um intercâmbio de 3 meses que ele fez, voltaram e ficou a sensação que ele era “o cara”. “A sua cara metade?”, perguntei eu. “Ninguém é perfeito e eu nunca acreditei nisso”, retrucou ela, já sem o mesmo brilho nos olhos do início da conversa. Mesmo soando como um argumento frio, ela está coberta de razão: Nossa cara metade é nossa imagem no espelho: por mais que a gente deva fazer planos em conjunto, não há ninguém que a gente deva amar mais do que a nós mesmos. Por isso, se sua cara metade não for você, com certeza você nunca será a cara metade de ninguém. De qualquer forma, parecia que ela descrevia sempre seu ex como o homem perfeito para outra felizarda mulher. Muito estranho...
Você já parou para pensar neste trajeto que desgasta toda e qualquer relação? O que exatamente ocorre? A vida se torna mais complicada? Um parceiro evolui mais do que o outro? No caso da minha amiga, ele disse que sentiu falta de novos ares, de uma nova pegada, de uma forma de beijar diferente, de papos diferentes, programas diferentes... E é neste momento em que a pessoa questiona: será que a vida deve ser só isso, ou será que nós é que somos eternos insatisfeitos? A partir daí, as pessoas começam a negligenciar seus parceiros, a olhar para outras pessoas (às vezes até cogitando algo a mais) e a lamentar por uma intimidade decorada (como um caminho que fazemos de olhos vendados).
O estopim do término mesmo rolou no sábado passado: seu ex começou a falar sobre coisas que os dois viveriam quando estivessem velhinhos. Segundo ela, ele falava com uma segurança tão grande que parecia que ela tinha dado um vale eterno de sua vida a ele. A ficha caiu neste momento. Ela se sentiu péssima por ver que ele tinha plena certeza de que ela se contentaria com “aquilo” para sempre. No entanto, não é isso que todo mundo busca em uma relação? Envelhecer juntos? Cumplicidade? Após dormir super pouco naquela noite, ela acordou "com a mesma intimidade que passava do limite do tolerável" (palavras dela). Depois de alguns anos morando junto, a gente deixa de se preocupar em parecer atraente para o outro no dia a dia, e o desleixo se torna evidente. E juntando todas essas peças, ela o chamou para uma conversa séria e terminou. “O pior foi que ele ficou muito quieto e não demonstrou muita surpresa”. E o que ela queria? Que ele implorasse, tentando fazer com que ela mudasse de ideia, só para massagear seu ego? Acho que isso teria sido muito pior.
Às vezes as coisas caminham de forma tão letárgica, que as pessoas acabam preferindo a incerteza de algo grande do que a certeza de algo mediano. Minha amiga disse que dificilmente encontrará alguém melhor do que seu ex, ou que a amasse tanto quanto ele, mas e daí? Para ela, isso não bastava. Você não pode amar uma pessoa muito mais do que ela te ama, e vice-versa.
Na vida, na carreira e no Amor, o ideal é aquilo que eu chamaria de um "estabilidade instável" (ou seja, um estado de Equilíbrio com algumas coisas que ainda nos surpreendam). Instabilidade demais traz insegurança, e estabilidade demais traz tédio.
Obviamente, minha amiga ainda sentia sua recente solteirice como uma roupa nova que ainda não estava acostumada a vestir - mas é óbvio que isso vai passar. Ela ainda viverá muitos momentos de arrependimento, desespero, alegria... Mas a vida sempre deve ser o que fazemos dela, e não o que ela faz de nós. E foi isso que ela fez: ao invés de ser a velhinha que seu ex moldou no sábado passado, ela preferiu ser a velhinha que ainda não fazia ideia de como será.
Enfim... Eu podia dizer a esta minha amiga que ela errou, que está atrás de algo utópico... Mas esta seria a minha verdade. É muito mais fácil dar soluções para a vida dos outros. Porém, se eu tivesse que cravar uma lei sobre o Amor, eu diria que não há regras no Amor. Por quê? Porque só você sabe o que é ser você.
Da minha parte, eu espero sinceramente que a próxima página da história da minha amiga lhe reserve um Amor ainda mais bonito. Não que seja a metade da laranja, um príncipe... Mas alguém que lhe faça feliz, e ponto. E quanto ao seu ex, que deve estar até pior do que ela... A vida segue, o tempo passa e não há mal que perdure para sempre.
O calo de hoje é a base que lhe servirá sola para protegê-lo de caminhos difíceis. Em outras palavras, só se aprende a andar caindo. E nunca se esqueça que a vida é muito curta para que você perca tempo longe da busca dos seus ideais, sejam profissionais ou amorosos.
Se você está vivendo um capítulo triste de sua história, não tenha medo de arriscar. Vire a página e comece a escrever outro.