terça-feira, 10 de setembro de 2019

"Eu estou apaixonado(a)". E agora?

Quase todo mundo já se deparou com este momento que mistura deleite, sofrimento e uma indescritível sensação de plenitude e sintonia com o Amor puro. Aliás, para a maioria das pessoas que já passaram por isso, o "estar apaixonado(a)" quase sempre é lembrado como um devaneio sentimental - uma adrenalina semelhante a um passeio de montanha russa: perdemos o ar, ficamos enjoados, com medo... Mas queremos estar lá! (Ou seja, apesar de todos os pesares, todos querem estar apaixonados - assim como a fila da montanha russa, que é sempre a mais cheia dos parques de diversões). No entanto, você já parou para pensar mais a fundo sobre o que ocorre em seu corpo, mente e espírito quando você está apaixonado(a)?

Quando percebemos que a pessoa amada está chegando, costuma vir junto com ela uma sensação de medo, enjoo e excitação. Isso porque quando estamos apaixonados, temos a sensação de que precisamos daquela outra pessoa para nos sentirmos completos. Então, essas sensações nada mais são do que a ansiedade e a excitação (não somente no sentido físico) por estarmos ainda mais próximos de nossa plenitude. A pessoa amada representa o ideal de vida, aquilo que falta para você se sentir completo, feliz. É por isso que tendemos a associar musicas, cheiros e imagens à pessoa amada: queremos de alguma forma sentir a plenitude que a pessoa amada nos traz em todos nossos sentidos, mesmo que à distância. Aquilo dá um sentido à nossa existência, e no fundo, é isso que todo ser humano quer: um sentido para nossa existência, um objetivo de vida e alguém que nos complete.

Pois é... Tudo que foi descrito acima parece lindo... Mas a vida real não é assim. Infelizmente, boa parte das nossas "paixonites" não é correspondida. E é aí que mora o perigo: uma paixão não correspondida se torna rejeição. E rejeição é sinônino de infelicidade, podendo nos trazer males como a prostração, o desânimo e até uma depressão. E outra: ter alguém do nosso lado é ótimo, mas e se não aparecer "a pessoa"? E se o seu Amor não for correspondido? Ninguém pode jogar na responsabilidade de outra pessoa sua felicidade ou frustração. Então... Como lidar com isso?

Em primeiro lugar, gostaria de definir aquilo que chamo de paixonite. Seguindo a morfologia do sufixo ITE, paixonite seria aquilo que eu chamo de "inflamação nociva de uma paixão" - ou seja, algo próximo a um desequilíbrio emocional que ocorre quando a paixão passa do ponto saudável e se torna nociva para nosso equilíbrio físico, mental, psicológico, energético e espiritual. É aquilo que nos acomete quando, mesmo já tendo plena certeza que a pessoa amada não será conquistada, a gente continua demandando Amor, tempo e energia naquele sentimento. 

"E desde quando sentir Amor é algo ruim?". Para a pessoa amada, "ser amado" QUASE sempre é bom. Isso porque as pessoas não fazem ideia do poder que o Amor emanado tem, desde que saudável, equilibrado. Vamos tomar como exemplo o Amor de uma fã por seu ídolo. Você acha normal o Amor de uma pessoa que chora, berra e desmaia quando se depara com a pessoa amada? Que tenta arrancar a roupa da pessoa amada, puxar seu cabelo, invadir sua casa? É por isso que tantos artistas se desequilibram: é muito difícil lidar com tanta devoção e paixão desenfreada. 

E sobre a paixão não correspondida... Por mais lindo que seja o Amor sentido, muitas vezes, a rejeição sentida gera traumas carregados para os próximos relacionamentos. É o famoso "Depois dela, nunca mais me apaixonei novamente". E isso pode se tornar um padrão repetitivo: a pessoa ama, é rejeitada, se torna desconfiada, gera desconfiança em seus parceiros e um ciclo sem fim de "desconfiança pelo Amor" acomete mais a mais pessoas.

Voltando a falar sobre as sensações do estar apaixonado... Na maioria das vezes, colocamos nossa vida, nossa carreira e família em segundo plano quando estamos apaixonados, e isso nunca é bom. A vida saudável e plena se faz no equilíbrio de todas as esferas: física, energética, mental, profissional, social, amorosa e espiritual. Logo, aquela mescla de sensações descritas no início (a excitação, as "borboletas no estômago", a vergonha, o suor das mãos, o nervosismo etc.) nada mais é do que sinais de que nosso corpo não está desequilibrado. E isso nunca é bom.

"Então não é saudável se apaixonar?". Não é bem assim... Estar apaixonado, como descrevi no início do texto, é estar em uma montanha russa emocional e física. E um passeio de montanha russa, pela intensidade que nos acomete, deve sempre ser curto. É por isso que cometemos excessos quando estamos apaixonados. E é por isso que a paixão (no sentido irracional da paixonite) não costuma durar a vida inteira: ninguém aguenta os picos deste tão potente sentimento por muito tempo.

Concluindo... Estar apaixonado é ótimo. Aflora o melhor que podemos fazer por alguém. Mas este sentimento agudo tem que ter prazo de validade - e, de preferência, ser um Amor correspondido. Paixões não correspondidas podem até gerar boas musicas, boas crônicas, obras de Arte, trazer aprendizados, crescimentos... Mas ninguém merece sofrer por tempo indeterminado. 

Caso você esteja vivendo uma paixão não correspondida, saiba aprender com ela. Porém, no momento em que tiver plena certeza que este Amor nunca será correspondido, não se desespere: deixe este lindo sentimento se esvair naturalmente, como Água quando tentamos segurá-la em nossas mãos. Afinal, é nos tombos que aprendemos a andar corretamente. E é nas frustrações e derrotas que aprendemos a nos valorizar, amadurecer, evoluir e vencer. 

A partir de hoje, se você quiser trazer para sua vida o melhor que o Amor verdadeiro (e equilibrado) pode lhe proporcionar, pare de encarar o Amor como uma coisa doida e incontrolável: Encare o verbo Amar como um vinho que melhora a cada ano, maturado e envelhecido. E, mesmo que você carregue anos de frustrações e paixões não correspondidas, não desista do Amor. 

Não acredito nessa coisa de "tampa na panela" ou "metade da laranja": acredito em duas pessoas maduras o suficiente para se encontrarem, se respeitarem e decidirem dar as mãos em prol de projetos e objetivos comuns. Isto é o Amor pleno.

E lembre-se: a paixão da sua vida é VOCÊ MESMO(A). Afinal, se você não for capaz de se priorizar e se amar, como exigir que outra pessoa lhe ame?


(escrito por Daniel Paione)