Um padre tem que ser uma pessoa sem defeitos para pregar o evangelho? Um técnico de futebol tem que ter sido um craque para valorizar seu trabalho? Um psicólogo deve ser a pessoa mais equilibrada do mundo para trazer equilíbrio aos outros? Até que ponto a pessoa tem que SER aquilo que ela ensina, para ser considerada bem sucedida?
Nesta semana fui surpreendido com duas perguntas muito simples: "Como você se acha capaz de trazer otimismo pras pessoas tendo na vida seus momentos de pessimismo? Você não acha que se você não consegue evitar o pessimismo, acaba passando uma imagem de que não é capaz de aplicar aquilo que sugere às pessoas?". Foram perguntas bem simples, mas que carregam um significado mais amplo. Vamos lá... Nos últimos anos, fiz duas cirurgias, acolhi um irmão num acidente quase fatal, perdi uma cadelinha para uma doença que a matou em menos de 10 dias, tomei um calote de um artista que "comprou" (sic) uma composição minha e, há alguns dias, fui atropelado (nada de mais, só tomei uma pancada, caí e tive meu dedinho do pé quebrado). Estes são os obstáculos que eu me lembrei agora, mas com certeza tive outros mais altos ou mais baixos, assim como todo mundo.
Não acho que eu tenha mais ou menos “problemas” que você ou qualquer outra pessoa, pois a intensidade e a frequência dos obstáculos de cada um variam e são sentidas de formas distintas (ou seja, algo que não me incomoda pode ser visto como uma “grande dor de cabeça” pra você). Por mais óbvio que este argumento soe, o que vemos nos tempos atuais é uma avalanche de “otimistas de carteirinha” – pessoas que insistem em apresentar uma felicidade empírica, como quem implora para a Sociedade a aceitação por ter na testa um rótulo de FELIZ PARA SEMPRE tatuado. Mas a verdade é bem diferente.
Quem prega que é preciso sorrir o tempo inteiro é um indivíduo que foge de seus problemas, achando que o sorriso pode apagar ou amenizar o peso de nossos obstáculos. E o desafio da vida é exatamente esse: saber o tempo certo para sorrir, chorar, se manter sério ou focado em algum propósito.
Sempre que estou em uma fase mais pessimista, chega alguém e faz o questionamento do início deste texto: "como você quer levar Equilíbrio para as pessoas, se é uma pessoa desequilibrada?". Em primeiro lugar, para quase tudo na vida, é preciso substituir o verbo SER pelo ESTAR. Eu posso ESTAR desequilibrado em determinado momento, mas não SOU desequilibrado. Da mesma forma, eu posso ESTAR feliz, pois SER feliz não deve ser visto como uma condição obrigatória, mas sim, como uma busca incessante em nossa vida - afinal, ninguém conquista a felicidade para sempre: a busca por ela é constante, mas sempre sabendo viver a vida (e é por isso que não podemos camuflar nossos problemas ou exagerar no peso de nossas vitórias, sorrindo o tempo inteiro, como um tolo que quer a todo custo passar uma imagem de felicidade suprema e constante). Assim, o Equilíbrio Pleno que sempre mencionamos aqui é uma busca constante, e não algo que conquistamos definitivamente. As coisas ruins não devem nos derrubar, e sim, nos fazer evoluir e aprender - pois é nas adversidades que mais aprendemos.
Então, como lidar de forma serena com os “copos mais vazios”? Para começar, não fuja dos seus problemas ou de períodos de mais desânimo ou pessimismo. Pelo menos eu acredito que as fases ruins devem ser vistas como um vinho: você deve esperar o tempo certo para elas "curtirem", analisando friamente seus prós e contras e só depois você deve engoli-las. Então, se você está vivendo algo ruim, não ignore isso, como quem quer dar uma de otimista e faz de tudo para minimizar seus problemas. Mantenha a calma, raciocine, faça o que tem de ser feito, respire fundo e siga em frente sem olhar pra trás. Aí sim, o obstáculo deve ser removido de sua mente, pois já fez seu papel (trazendo reflexão, aprendizado e lhe calejando mais para o resto dos seus passos). Isso significa que ninguém deve ser considerado otimista ou pessimista. Coisas boas e ruins acontecem com todo mundo, e cada um deve ser forte para carregar seu fardo pelo tempo que for preciso, sem compará-lo ao fardo dos outros ou se revoltar. Meu trabalho na Holoterapia não exige que eu seja otimista o tempo inteiro, mas sim, que eu busque meu Equilíbrio Pleno o tempo inteiro - e é essa busca que eu considero que todos nós devemos almejar, com foco, sem pressa ou desespero.
Concluindo... Quando alguém lhe perguntar se o seu copo está meio cheio ou meio vazio, não hesite em responder: “não importa o copo: eu tenho todas as garrafas do mundo bem na minha frente – e dependendo da minha vontade, eu posso enchê-lo na quantidade desejada e com a bebida que eu quiser”.
E lembre-se sempre que você não é o que é, você está onde está.
Siga em frente sem olhar para trás, pois só a escolha dos bons caminhos nos leva ao melhor destino final.