Boa parte da humanidade tem problemas com o tempo. Param em um passado que já foi, planejam um futuro que não existe e reclamam de um presente que é a única coisa que temos de fato. Tudo isso ocorre porque com o envelhecer, somos obrigados a deixar de fazer muitas coisas que nos davam prazer, como jogar futebol, beber e comer de tudo, fazer sexo, correr, ser desejado(a) na rua e gozar de uma saúde plena (e um corpo sem dores). Muitas pessoas têm dificuldade em lidar com essa sensação de que algo “NUNCA MAIS” poderá ser vivido. Então, reflita: você tem uma relação equilibrada com o tempo?
Devo confessar que sempre tive dificuldade em lidar com essa sensação do "nunca mais vou viver/poderei fazer isso". E o “NUNCA MAIS” pode se manifestar em nossas vidas de diversas formas: no envelhecer, nas mudanças de fases da vida, mudança geográfica, no falecimento dos entes queridos...
Desde criança, eu sempre senti dificuldade em me despedir de amigos que se mudavam, das professoras que saíam da escola ou das transições entre um ano letivo e outro. Muitas pessoas passam por tudo isso numa boa, mas durante um bom tempo, sofria com o NUNCA MAIS. E isto é algo que não faz o menor sentido, porque vivemos passando por situações que nunca mais serão vividas da mesma forma, e não nos atemos a isso. O mundo muda, nós mudamos, as pessoas ao nosso redor mudam e não há como evitar isso.
Todos nós caminhamos pra frente, e o NUNCA MAIS representa o não poder caminhar pra trás. Quem ignora isso ignora o óbvio: o passado já passou e não volta mais. Não dá pra reviver algo vivido da mesma forma que foi vivido.
No entanto, por mais que eu aceite esta verdade universal, o pior NUNCA MAIS na minha opinião sempre será a morte. Muitas religiões pregam que os núcleos familiares nunca se afastam, seja no "Céu", em outros planos ou em próximas encarnações, mas na hora da partida, a dor da separação física fala mais alto. "Ele vai pra um lugar melhor"? "Ela cumpriu o que devia nesta vida"? Por mais que a maioria das doutrinam preguem que pessoas boas migram para locais melhores quando desencarnam, a morte representa uma ruptura dolorosa. E por que passamos por isso, já que este é o curso natural da vida? Se todos nós sabemos que um dia vamos morrer, por que a maioria de nós tem tanta dificuldade em lidar com a morte?
Em primeiro lugar, não há como negar que a certeza de não mais poder ver (fisicamente) e falar com um ente querido desencarnado doa muito mais do que poder vê-lo a qualquer hora. Mas não é só isso: A certeza do que foi alegremente vivido cria imagens reais e lembranças felizes em nossa mente, enquanto que a incerteza do que ainda não foi vivido é mais assustadora.
Então, sabendo disso, por que não aprendemos a lidar melhor com a morte e outras situações de ruptura? Por que nos prendemos às coisas boas do passado, que nada mais são do que lições aprendidas, ou anos letivos passados (que não devem ser refeitos se você foi aprovado)? Por que ignorar o fato de que não somos corpos com espíritos, mas sim, espíritos com corpos? Por que se lamentar por pessoas que cumpriram seu papel por aqui, se o período convivido com essas pessoas deveria ser mais valorizado do que o futuro não vivido?
A verdade é que as coisas acontecem simplesmente porque acontecem. Seja por uma infinidade de livres arbítrios cruzados ou por algo que ainda não sabemos explicar (e que alguns chamam de "destino" e outros de "vontade de Deus").
Embora eu acredite em tudo descrito acima, ainda sinto dificuldades em lidar com o NUNCA MAIS. Talvez por isso eu sonhe tanto com entes queridos desencarnados, seja por ser esta uma forma de lidar com a separação terrena ou por isto ser algum tipo de experiência mediúnica. Mas, quer saber? O que importa é que o NUNCA MAIS representa um passado que não mais será presente, muito menos futuro. E, como o próprio nome diz, o PRESENTE é um presente de Deus (chame “Ele” você como quiser).
Se quiser uma relação mais saudável com o passado, sorria pelos momentos bons e sinta Gratidão pelo aprendizado gerado pelos momentos ruins.
Outra coisa que eu costumo fazer é, antes de dormir, visualizar mentalmente a conquista de tudo que eu desejo da forma mais detalhada possível (acredite, isso tornará essa projeção mais crível e próxima da realidade).
E, acima de tudo, agradeço pelo caminho trilhado, pelas coisas pontuais que ocorreram naquele dia e por ser exatamente quem eu sou. Desta forma, eu crio uma relação de Gratidão e positividade com meu presente – deixando para trás um passado que não me serve mais e possíveis paranoias com um futuro que não existe.
Quanto aos entes queridos que já se foram, não há nada que possa trazê-los de volta. Que sigam seus caminhos, e que um dia possamos nos cruzar de novo.
E quanto a todos os outros “NUNCA MAIS” que a gente ainda vai se deparar na vida, que o tempo nos traga maturidade para lidar melhor com tudo que não será mais vivido. Afinal, nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. Faz parte da vida aceitar todo este processo...
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