Em primeiro lugar, é bom já deixar claro que este texto não tem o intento de criar polêmicas nem embates de gêneros, mas sim, gerar uma reflexão sobre os estereótipos que a Sociedade cria e que acabamos aceitando (nem que seja no embalo dos outros).
Para quem não me conhece, tenho quarenta e "tantos" anos e tive um certo histórico de câncer de próstata na minha família. Por causa disso, os médicos sempre me recomendaram começar a fazer o tal "exame de toque" (sim, "aquele") a partir dos meus quarenta anos. Bom... Eu protelei o quanto pude, até que dois tios meus tiveram que fazer biópsias com chances de ter um carcinoma, e aí minha esposa e minha família me "obrigaram" a marcar a consulta com um urologista.
Comentei sobre o assunto com alguns amigos na faixa entre quarenta e cinquenta anos, e para minha surpresa, mesmo com históricos familiares de carcinomas na região, a maioria fugiu do desconfortável exame de toque. E pior: quando mencionei que ia fazer o tal exame, a maioria vinha com as mesmas brincadeirinhas de sempre: "cuidado pra não gostar, hein?", "escolhe um médico com dedo pequeno" ou "leva um vinho para quebrar o clima com o médico".
Decidi conversar com algumas amigas mulheres, e a reação delas foi totalmente oposta: "parabéns por se cuidar", "que bom que você não cai nestes preconceitos que este exame fere sua masculinidade" ou "nós estamos acostumadas a fazer exames desagradáveis desde sempre. Pois é... Esta última frase me fez refletir. De fato as mulheres fazem exames extremamente invasivos e desagradáveis desde que menstruam pela primeira vez. E a partir de uma certa idade, a coisa piora ainda mais, com os exames para detectar possíveis carcinomas nas mamas.
Foi aí que eu parei para refletir na eterna alcunha de "homem = sexo forte" e "mulher = sexo frágil". Tudo bem, fisicamente somos (pelo menos na média) mais fortes, mas e todo o resto? E a força emocional, a sensibilidade, o engravidar, as cólicas constantes, a TPM, o assédio, o machismo...? Seria justo cunhar este estereótipo em criaturas tão fortes, e chamar de forte alguém que foge de um DEDO??
Longe de mim querer criar novos estereótipos, mas acho que já passou da hora da gente se ater às nossas individualidades, e parar de rotular as pessoas por seu gênero, suas preferências sexuais, sua cor de pele, sua profissão ou qualquer coisa que o defina EM PARTE. Somos seres plurais, com defeitos e virtudes, pontos fortes, fracos e devemos ser vistos por tudo que nos forma. Escolher algo específico para julgar e rotular é um recurso pobre, covarde e burro.
Enfim... Meu exame? Foi ontem. Não durou mais que cinco segundos. Passei o dia nervoso, tenso... E saí de lá pensando "cara... tudo isso por ISSO?". É desagradável? Não vou negar que é. Mas com certeza é menos desagradável que ser surpreendido por um diagnóstico de câncer de próstata por preconceito ou medo de um dedo. Um simples dedo...
(escrito por Jonas de Paula)
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