sábado, 7 de maio de 2016

Eu, "Mãe"

Amanhã é o dia das mães, e para alguém que não tem um filho ainda (como eu), assim como já havia feito no dia dos pais, decidi fazer um exercício imaginando como seria ser mãe. A conclusão que eu cheguei? Que não há missão mais importante neste planeta do que essa. Texto dedicado para a moça da foto ao lado, que recebeu a complicada missão de me botar nesse mundo...

"Hoje eu tive um sonho estranho. Sonhei que acordava sozinho em minha cama, mas com uma "pequena" diferença: eu era uma mulher. Grávida. E de uns 9 meses! 

A princípio, como todo homem faria, eu explorei meu corpo. E, como não podia deixar de ser, parei diante do espelho e fui direto para meus seios. Passei alguns minutos apalpando e tateando cada centímetro deles, e quanto mais tempo passava, mais perguntas surgiam na minha mente: Por que nossa cultura inibiu a mulher da exposição de seus seios? Por que nós, homens, somos tão obcecados por eles? Por que houve tanta erotização por algo que alimenta os primeiros passos de todo ser humano? A cada minuto que passava, eu me sentia mais confuso como homem, e mais seguro como mulher.

Após explorar meus seios, desci minhas mãos apalpando minha barriga de grávida, meu umbigo (que parecia um botão saltado para fora) e fui logo para as partes mais íntimas. Sim, minha cabeça de homem quis logo partir pros finalmentes (como não poderia deixar de ser). E, pela primeira vez, me senti mal por ser mulher. Senti falta do meu "amigo de baixo". Pouco tempo depois, senti vontade de ir ao banheiro e fui. Cara, que coisa bizarra urinar sentado... E como era ruim mijar sem uma mira em mãos! Meu Deus, como era ruim ser mulher!

Dei uma leve caminhada e senti um pouco de dor na coluna, provavelmente ocasionada pelo peso dos meus seios e minha barriga. Nunca tinha parado para pensar que os seios podiam ser um fardo para as mulheres. Era como uma mochila carregada eternamente. Dei uns passos mais marcados e senti meus peitos balançando. Que sensação ruim... Eu precisava usar sutiãs. Assim, abri meu armário e tive que me vestir de mulher. Calcinha apertada, sutiã apertado, meia calça... Menos de 30 segundos após colocar a calcinha, já estava ela enfiada no meu traseiro. Porra... Imagina viver com esse incômodo o tempo inteiro!

Vesti uma roupa qualquer e me olhei no espelho. Faltava alguma coisa. Decidi passar um batonzinho e uma leve maquiagem. Engraçado... Quando eu era homem, sempre fui avesso a maquiagens, mas me olhando no espelho, parecia que faltava algo. Acho que o mundo já espera da mulher um zelo maior com a aparência, e isso gera mais gastos e menos tempo livre. Lembrei de todas as vezes em que briguei com minha namorada pelo fato dela estar demorando muito para se arrumar. Cacete... Como era ruim ser mulher...

Eis que, de repente, do nada, senti uma leve pontada na barriga. Fui direto para a cama, me contorcendo de dor. O que era aquilo? Uma cólica normal, dessas que a mulher tem todo mês, às vezes por dias e dias. Me mantive em posição fetal agonizando por alguns minutos, tomei muita água e fiquei lá, parado (ou parada), com as mãos apoiadas na minha barriga. Com o perdão da expressão chula... PUTA QUE PARIU! Como era ruim ser mulher! Eu carregava peitos, uma criança na barriga, não tinha mais controle sobre meu mijo e ainda tinha que lidar com homens toscos como eu (afinal, logo que me vi sendo mulher, a primeira coisa que fiz foi sair apalpando tudo que não devia...). E tudo isso em pouco mais de uma hora sendo mulher...

Foi aí que, de repente, mantendo minhas mãos em minha barriga, comecei a sentir algo surreal: meu filho ou filha se mexia, dentro de mim. Que sensação absurda! Eu estava gerando uma vida dentro de mim, e essa vida interagia comigo, conforme eu falava, cantava, comia ou sentia. Aquilo sim, era uma dádiva! Sendo homem, o máximo que eu sentia na barriga era o roncar de meu estômago faminto...

Quando eu já quase invejava as mulheres, senti uma fisgada que se transformou em dor. Minha bolsa tinha rompido, e aquela fisgada se tornou uma dor insuportável. Caí desfalecido no chão e fui encaminhado para o hospital. 

Enquanto aguardava o nascimento de meu filho ou filha, vendo meu corpo gordo, meus peitos desproporcionais, minha barriga quase rasgando de tão grande, meu umbigo pulando para fora e um desconforto generalizado, a única coisa que vinha em minha mente era "então esse é o mágico momento do parto?". Como suportar aquilo? Não havia nada pior do que ser mulher! Mais dores vieram, uma sequência de sensações estranhas surgiram e, do nada, escutei um chorinho nervoso. Era meu filho nascendo. Todo sujinho, melado... Mas assim que ele foi colocado em meus braços (e parou de chorar), tudo pareceu fazer sentido. As dores sumiram, os desconfortos ficaram em segundo plano... E, pela primeira vez na vida, senti uma plenitude que jamais havia sentido. Uma sensação de "missão cumprida", uma satisfação indecifrável, uma felicidade que mal cabia em meu corpo... Sabe fazer o gol e correr pra torcida? Conquistar a mulher mais linda do pedaço? Ser promovido, passar no vestibular... Diante daquilo, tudo isso se torna pequeno. Enfim, ali, com aquela criança em meus braços, eu senti que, somente agora, minha existência tinha um sentido. 

Como era possível sentir tanto Amor por uma criatura tão pequena e frágil? Aliás, sua fragilidade era tão evidente que, em uma fração de segundo, fui capaz de sentir raiva pelas brincadeiras maldosas que seus coleguinhas de escola fariam, pelos foras que as meninas lhe dariam, pelas notas baixas que ele teria na vida, suas frustrações, suas decisões erradas... E senti uma fúria incontrolável. Meu Deus... Se alguém fizesse algum mal a aquela criatura, eu seria capaz de esmagar esse coitado em um piscar de olhos. Nunca em minha existência masculina eu sentira tamanha força (nem levantando 80kg no supino...) 

No entanto, logo em seguida, imaginei aquela criança sendo amamentada por mim, sorrindo, me abraçando, me beijando, falando suas primeiras palavras, aprendendo a andar, entrando na escola, namorando, se formando... E, por mais importante que seja um pai, não há um vínculo maior com sua cria do que o vínculo com quem a gerou. Pela primeira vez na minha vida chorando de alegria, senti uma ligação com aquela criança que ia além de nosso contato físico. Telepatia? Um vínculo cósmico, espiritual, universal? Não sei dizer. Porém, a cada inspirada sendo preenchido por aquela sensação sublime, comecei a perceber que acordaria, voltando a ser homem. Porra, mas já?

Acordei em minha cama sozinho, mais leve e com todos os adereços masculinos devidamente "instalados". Já sentindo falta daquele serzinho que saíra de dentro de mim, e todas aquelas sensações e emoções exacerbadas, fui acometido por uma tristeza quase que retumbante. Por mais sensível que eu fosse, eu nunca seria capaz de sentir tudo aquilo novamente. 

Após ir ao banheiro e usar novamente minha "mira de urina", olhando meu corpo refletido no espelho, pela primeira vez em minha vida, senti uma leve inveja das mulheres. Porque apesar nas dores, do excesso de peso (durante a gravidez), dos "pré-conceitos", do excesso de sensibilidade (que as torna muitas vezes mais vulneráveis) e de todo um mundo teimosamente injusto, nós nunca seremos capazes de gerar uma vida dentro de nosso corpo. 

E, sentindo uma estranha saudade de algo que nunca tive, com o perdão do termo chulo, concluí:

PUTA QUE PARIU, como foi bom ser mãe..."


Feliz dia das mães a todas que têm o privilégio de ser uma! 
(e a todos que ainda têm o privilégio de ter uma...)

(por Daniel Paione)

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