sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O paralelo entre a revolução feminina e as grandes guerras

Uma das coisas que mais rebaixa o ser humano é o preconceito - ou a não aceitação de alguém por causa de sua cor, raça, credo, gênero, paixão, opção sexual ou deficiência. Sabe-se que a cada década, a mulher vence barreiras e prova ao mundo que pode conquistar tudo que os homens conquistam ou conquistaram, mesmo sendo nós completamente diferentes em nossas essências. Neste texto, analisamos o talvez estopim desta revolução feminina: o papel que a mulher assumiu após as grandes guerras.

Para começar, vamos voltar um século, para analisar toda a revolução que a mulher causou no planeta com suas conquistas e mudanças comportamentais. E digo isso com satisfação, pois tudo hoje melhorou por causa desta revolução feminina: as relações são mais verdadeiras, o sexo pode ser melhor aproveitado, as conquistas são reais (e não impostas por religiões ou por escolhas familiares) e o mundo indiscutivelmente está mais justo.

Creio que as primeiras mudanças comportamentais tenham surgido logo após a 1ª Guerra Mundial, na Europa e Estados Unidos. Com os maridos indo para a Guerra, as esposas ficaram sozinhas por um bom tempo – e em muitos casos, ficaram viúvas. Naquela época, não existiam métodos contraceptivos nem TV (ou seja, pode-se imaginar que, sem ter muito o que fazer depois que anoitecia, um casal normal tinha muitas relações sexuais). E era comum uma mulher casar com 17 ou 18 anos – o que tornava seu período de fertilidade matrimonial muito maior do que hoje em dia. A consequência disso tudo é que havia casais com dez, doze filhos... E, no caso do pós-guerra, muitas esposas sozinhas ou viúvas com esses dez ou mais filhos.

Naquele tempo, era muito difícil uma mulher conseguir se casar de novo – ainda mais levando consigo dez ou doze filhos de um casamento anterior. Meus avós sempre falavam sobre mulheres que às vezes aguentavam maridos que batiam nelas, bebiam... E até os pais delas diziam que elas tinham que aguentar isso, pois “casamento era para sempre”, não importasse o quão ruim ele fosse. Vi pesquisas que mostram que há milhões de mulheres sexagenárias que nunca tiveram um orgasmo na vida - o que mostra o quão prejudicial é um preconceito que rebaixa um em detrimento de uma empírica valorização do outro.

Com o fim da Guerra, muitos europeus vieram para a América para fugir de um cenário de destruição e pobreza. Poucos anos após isso, veio o impacto da queda da bolsa de 1929, que quebrou milhares de empresas e famílias. Juntando essa falência econômica com as viúvas da 1a Guerra, o cenário já "exigia" que muitas mulheres saíssem ou para sustentar suas famílias, ou para complementar a renda da casa. E todo este fenômeno resultou em uma nova mulher não só na Europa e EUA, mas em todo mundo ocidental.

Poucos anos depois, veio a 2ª Guerra Mundial. Foi uma guerra ainda mais sangrenta e com mais mortes. Mais mulheres ficaram viúvas e tiveram que cuidar de suas famílias sozinhas. Foi aí que de fato começou a ser dado um certo espaço para a mulher no mercado de trabalho. Ainda eram sub-empregos se comparados às colocações masculinas, mas muitas mulheres já ajudavam efetivamente no orçamento de casa (quando não eram as únicas provedoras).

Na minha modesta opinião, muitas viúvas da 2ª Guerra acabaram inevitavelmente criando filhas com uma mentalidade mais libertária, sem influências machistas... E acredito ser possível afirmar que algumas das filhas das viúvas da 2ª Guerra foram as mulheres que deram início a grupos "libertários" como o movimento hippie, nos Estados Unidos, também formado por pessoas que já deviam ser revoltadas pela morte de seus pais/parentes na 2ª Guerra - e ficaram ainda mais furiosas com a falta de propósito da Guerra do Vietnã (coincidentemente, houve mais uma batelada de esposas viúvas e mais filhos homens criados só com uma referência feminina). Tudo isso gerou uma grande vontade de igualdade e liberação sexual entre as pessoas. 

O mundo estava em transformação, e pode-se dizer que talvez parte da causa da revolução feminina foi a ausência masculina gerada pelos homens mortos nas grandes guerras (ausência esta que implicou não só na necessidade de trabalhar, mas também no fim de muitos lares com homens mandando, desmandando e impondo as regras do que podia ou não podia ser feito). 

Com o passar dos anos, naturalmente, as mulheres não se contentaram mais em só fazer parte da engrenagem: quiseram iguais condições de vida, de trabalho e dos julgamentos que recebiam das pessoas (e obviamente mereciam isso).

Engraçado conversar com meus pais (que viveram suas respectivas juventudes nos anos 60) e ver que eles estudaram em escolas segregadas. Minha mãe só estudava com mulheres, e se quisesse “paquerar”, saía da escola e ia para alguma saída de escolas e/ou universidades masculinas – o que na época, era quase que um pleonasmo, já que eram pouquíssimas as mulheres que faziam curso superior. A maioria ou virava dona de casa, ou fazia magistério. E analisando as gerações de meus pais e avós, já dava para ver a gritante mudança que houve em relação aos namoros convencionais: nos anos 40 ou 50, as moças saíam com seus namorados e no máximo andavam de mãos dadas com eles. Minha vó sempre dizia que era comum uma moça ir acompanhada de uma irmã mais nova quando saía com seu namorado. Aquilo de certa forma garantiria que os dois não cairiam em tentação.

Vieram os anos 70, 80, 90... E o resultado disso tudo foi uma evolução gradual, lenta... Mas que gerou e continua gerando feridas complicadas de se compreender. Ainda existem homens machistas, agressivos, manipuladores e castradores, e isso faz com que existam também mulheres que encaram o homem como "o inimigo a ser batido" (ou seja, combatem grosseria com grosseria, violência com violência, desprezo com desprezo). E isto gerou um ambiente onde se briga para ver quem pode mais (ou um balaio de gato onde o "cada um por si" impera, pois infelizmente, tudo que o homem fez - e ainda faz - de errado é copiado pelas mulheres).

No cenário dos relacionamentos, o Amor se torna cada vez mais complicado. Tanto homens como mulheres beijam diversas pessoas numa noite e rifam suas intimidades com estranhos - e não digo isso por achar que o sexo deva ser reprimido, mas por considerar que é algo muito íntimo para ser compartilhado sem o mínimo de intimidade. De qualquer forma, se o homem teve essa postura de "pegar todo mundo" durante séculos, nada mais justo que as mulheres também o façam neste contexto de igualdade. No entanto, não sei aonde iremos parar se nenhum dos lados baixar a guarda e estender a mão para o outro, com respeito e compaixão. Isso por uma simples e óbvia razão: 

Se você mata um assassino, você se rebaixa a ele. Se você desrespeita uma pessoa que lhe desrespeitou, você se iguala a ela. E o maior instrumento de transformação da humanidade é o Amor. É ele a força motriz do planeta, ou o maior agente agregador de tudo que nos cerca: pessoas, locais, animais, plantas... Tudo. 

Pode ser que um dia todos nós percebamos que esta eterna guerra dos sexos não nos levará a nada, e nos foquemos nas poucas coisas que importam. Quais são elas? O Amor, a família, os amigos, nosso entorno, nossa forma de interagir com tudo isso, o Ecossistema que nos cerca... Enfim, toda e qualquer forma de energia e VIDA. 

(por Jonas de Paula)