terça-feira, 18 de março de 2014

Religiosidade x Espiritualidade


Embora eu tenha sido batizado logo após nascer e tenha feito a primeira comunhão aos doze anos, posso dizer que comecei a me interessar de fato pela busca por “respostas mais amplas” (sobre a vida após a morte e diversos fenômenos que a razão não explicava) por volta dos meus vinte anos. Meus pais e irmão nunca foram muito religiosos, por isso demorei tanto para começar a ter este interesse. E, como era de se esperar, cada resposta gerava mais e mais perguntas. Só aí percebi que esta é uma busca sem fim. 

Por que as coisas acontecem como acontecem? Há um motivo para isso? O que vem na frente: Destino ou livre arbítrio? Por que o excesso de sensibilidade traz tantos problemas às pessoas sensíveis? Não existem regras ou uma idade padrão para buscar respostas mais profundas sobre a vida, a morte e outras questões mais profundas. Eu particularmente comecei a sentir necessidade e me conectar a algo maior por volta dos vinte anos, quando abracei o espiritismo como religião e me mantive satisfeito com as respostas que ele me oferecia até pouco depois dos meus trinta anos. A partir daí, comecei a sentir que “faltava alguma coisa”.

Por volta dos meus trinta anos, vendo que nada me “completava” inteiramente como religião, decidi estudar um pouco de cada doutrina, sem preconceitos ou "pré-conceitos". Embora eu tivesse mais informações das religiões católica e espírita, eu queria entender mais do que a teoria de cada religião: eu queria compreender o que movia e inspirava seus seguidores, sem deixar de contrapor estes conceitos a tudo que eu já aceitava e questionava. 

O resultado disso era de se esperar: concordei com várias coisas de várias religiões e discordei de outras.

Citando o maior expoente religioso, admiro MUITO o papel de Jesus Cristo e a verdadeira obra que ele nos deixou. Mas será que ele apoiaria 100% do que está na Bíblia Sagrada, que acabou sendo escrita por outras pessoas e sofrendo dezenas de revisões ao longo dos séculos? E isto é HISTÓRIA, não a minha opinião. Será que Jesus apoiaria a ideia de queimar mulheres que questionavam as coisas, como ocorreu na época da Inquisição? Será que ele associaria o homossexualismo a algo condenável, como muito religioso hoje associa? Duvido. Suas lições envolviam a aceitação incondicional de todos, a busca do bem e a prática do Amor acima de tudo, não importando o credo, raça, gênero ou opção sexual da pessoa. Da mesma forma, será que Maomé aprovaria homens bomba, extermínio de católicos ou o uso de crianças como escudo? Dificilmente. É óbvio que estou citando os exemplos mais radicais – e os radicais representam a minoria dos fiéis. 

Mesmo assim, prossegui lendo muito, conversando com religiosos praticantes, continuei frequentando centros, igrejas, terreiros, templos, espaços... E comecei a perceber que, segundo a minha visão do que seria ideal, havia muita coisa interessante em diversas religiões: as meditações e o equilíbrio buscado pelo Budismo, a certeza da continuidade da vida (e a comunicação com os desencarnados) do Espiritismo, o Amor universal deixado por Jesus, as metáforas e mantras do Hinduísmo etc.

Então, por que eu deveria me adequar a uma só doutrina, se via sentido em práticas das mais variadas religiões? Por que a necessidade do “rótulo” de praticar apenas UMA religião?

Baseado nisso e em tudo que li sobre as mais variadas condutas, comecei a entender que por trás de todos os dogmas de fé, regras, deuses, métodos de elevação, causas e consequências, todos os seus praticantes no fundo buscavam a mesma coisa: paz no coração - traduza isto como você quiser: algo para anular seus erros, para lhe deixar mais tranquilo, para chamar de “o segredo da humanidade” ou para explicar o que ocorre depois que morremos. 

A partir do momento em que concluí que, no fundo, todas as doutrinas buscavam o mesmo, passei a ter outros questionamentos: se as religiões são centradas na paz, Amor e no bem, por que tanta intolerância? Por que tantas brigas e guerras religiosas? Se não for por motivos políticos ou financeiros, nada justifica o fato de uma pessoa se achar melhor que a outra por ter uma religião diferente da sua. 

Desta forma, embora eu continue frequentando centros espíritas (por acreditar que a doutrina espírita não seja uma questão de fé, e sim, um FATO) e templos budistas, no sentido restritivo desta definição, eu não considero que tenha uma religião - mas sim, que eu sigo várias doutrinas/filosofias. 

Minha “religião” se resume em seguir poucas regras: fazer o bem, evitar o mal, sentir Gratidão por tudo e buscar minha elevação como pessoa e espírito, hoje e sempre.

Tenho em casa um pequeno ”santuário” que chamo de meu "pequeno espaço de elevação", onde tenho imagens budistas, hinduístas e católicas (pois admiro muitas histórias destas imagens e me identifico com elas). Gosto do clima de paz das igrejas, da Arte estampada em seu entorno, das músicas e energia da Umbanda e pratico mantras e meditações sempre que possível. Meus amigos mais religiosos dizem que isso é “falta de personalidade religiosa”, mas e daí? Esta é a forma que eu encontrei de me elevar. Pode não ser a sua. Não sinto mais necessidade de rotular minhas crenças.

Bem... No momento em que deixei de tentar me adequar a algo, encontrando um Equilíbrio interno que me definia, passei a atrair aquilo se sintonizava comigo no meu entorno. Foi aí que eu percebi que minha vida estava se tornando mais completa, integral. E, sem saber, eu já começava a viver holisticamente. E quanto mais eu estudava as práticas holísticas, minha relação com a espiritualidade e com o Todo indivisível a que fazemos parte (que, para mim, não tem nada a ver com "religiosidade") começou a fazer mais sentido. Afinal, em uma proposta de vida integrativa, no momento em que conquistamos nosso Equilíbrio interno, isto fatalmente se expandirá ao externo, levando o bem que adquirimos a todos que convivem conosco. 

A partir do momento em que adotamos práticas holísticas em nossas vidas (respeitando tudo que nos cerca – pessoas, espaço urbano, plantas, animais e a Natureza em geral), cada um de nós ajuda a equilibrar o planeta e tudo que nos cerca. 

VIVER HOLISTICAMENTE é olhar além das suas crenças, dos seus entes queridos, da sua rua, bairro, país, continente e planeta. É deixar de enxergar somente a sua realidade e passar a enxergar você, o Todo que você faz parte e você inserido nele.

Enfim... Independente de sua crença ou religião, tenha em mente a real necessidade de respeitar e interagir da melhor forma com este TODO que nos preenche e nos cerca. Afinal... Somos como gotas em um oceano, e nenhuma gota é melhor ou mais importante que as outras. Por isso buscamos a integração com tudo que nos cerca - sempre centrados no bem, na fuga do mal, no aprendizado constante e no respeito a tudo que nos rodeia.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Ainda precisamos do Feminismo em pleno século XXI?

Qual é o real significado do Feminismo? A busca por direitos iguais, ou mostrar que a mulher é melhor que o homem? Ao contrário do que muita gente pensa, a verdadeira FEMINISTA não é a mulher que acha que a mulher é melhor que o homem, e sim, aquela que acha que a mulher merece tudo que o homem pode conquistar, e que deve ser tratada, apontada e julgada como um homem é. 

A presença do Feminismo infelizmente AINDA se faz necessária porque o mundo ao nosso redor não costuma ser justo com as mulheres. Mesmo assim, muitas mulheres ainda deturpam o sentido desta "luta". Não entendo muito bem a presença dessas pseudofeministas tirando a roupa em público para agregar algum valor à mulher. Se o objetivo é justamente mostrar que é a mulher é mais do que um pedaço de carne, qual é o propósito de expor seu corpo? Chamar a atenção da mídia? No fim das contas, a foto dos seios delas sai grande, e ninguém sabe o motivo delas estarem ali peladas. 

O grande problema é que há Homens e homens. Meu pai sempre trabalhou fora e minha mãe acabou educando seus filhos praticamente sozinha. Em detrimento disso, o respeito à mulher sempre foi algo não só normal, mas uma obrigação nossa como homens. Nunca na minha vida fiz elogios chulos, nunca puxei mulheres pelo braço nas baladas muito menos busco encostar nelas quando pego um metrô. E isto não é digno de elogios é o MÍNIMO que todo homem devia fazer. Respeitar se quiser ser respeitado.

No entanto, o mundo não é assim. Enquanto houver pedreiros com elogios chulos, molestadores de metrô, estupradores, playboyzinhos que puxam as mulheres pelo braço nas baladas, maridos que batem nas esposas e até mesmo homens que julgam às mulheres por suas roupas ou curvas, o feminismo ainda é necessário. Não para mim, mas para o mundo doente de quem associa um decote à falta de vergonha, uma sainha a "sou fácil" e simpatia a "tô a fim de você". 

Da mesma forma, não é porque uma mulher se vista com recato, que ela deva ser considerada frígida ou sem graça. Não é porque uma mulher malhe, se vista de forma sensual e seja "gostosa", que ela não possa ser inteligente, bem sucedida e feliz estando solteira. Como sabiamente disse uma amiga minha pouco antes de eu escrever este texto, “Eu gosto de me tratar, gosto de me sentir bonita e ser respeitosamente desejada (aliás, quem diz que não gosta, tá mentindo). Gosto de homens sérios com lampejos safados, e não de safados com lampejos sérios. De qualquer forma, se eu saio com uma saia ou um decote, isto não te dá o direito de me bolinar ou me julgar como fácil ou vagabunda.” 

Em suma, a mulher ainda é julgada e condenada o tempo inteiro. E, por causa disso, existe, sim, um espaço para aquilo que chamo de “Feminismo real” – ou seja, não para desvalorizar o homem, dizendo que as mulheres são superiores, mas para evitar que essas injustiças sejam cometidas contra elas. O machismo é tão hostil quanto o racismo ou esse feminismo belicoso que muitas mulheres propagam (afinal, dizer que "homem não presta" ou que "mulher é muito mais esperta que o homem" não deixa de ser um preconceito que nos diminui).

Valorizar a si mesmo não significa necessariamente desvalorizar o outro, seja homem ou mulher. Somos parte de um sistema único, uma engrenagem onde um precisa do outro. E, particularmente falando das relações entre homens e mulheres, aceitemos que nossas diferenças são deliciosamente atraentes (e talvez incompreensíveis aos olhos do sexo oposto). Não adianta lutar contra isso, cada um tem sua Natureza. 

O respeito ao próximo sempre deve ser a premissa básica de uma sociedade sexual e profissionalmente igualitária. Não sei se esta igualdade será vista ainda nesta década, mas mais do que valorizar as conquistas que as mulheres já tiveram, precisamos minimizar os resquícios de nossa cultura machista e patriarcal. Se é natural um homem se masturbar, deveria ser natural a mulher fazer o mesmo. Se um homem “gostoso” é respeitado na rua, uma mulher “gostosa” também deve ser. Se um homem transa e não é julgado, pare de julgar a mulher que faz isso, seja você homem ou mulher. E mais: valorize a mulher na hora do sexo. É incrível perceber nos atendimentos que faço que ainda há tanta mulher negligenciada em uma relação sexual. 

Acredito que não chegaremos a lugar algum propagando máximas como “o século XXI será o século das mulheres”. Isso é substituir a petulância do machismo por uma petulância do feminismo. Espero que este seja o século da igualdade sexual. E espero que a mulher saia dos dilemas que a perseguem hoje: liberdade x julgamentos, beleza x grosserias, bonzinhos x cafajestes, tímidas/ travadas x extrovertidas/ putas.

Basta desses preconceitos idiotas, somos todos iguais, seres em evolução buscando o bem, fazendo o bem e evitando o mal. Isto deveria resumir todas as religiões do planeta. 

Para finalizar este texto, coloco aqui uma ótima definição (dada por outra amiga minha) do que é ser mulher nos dias atuais: “É trabalhar fora, em casa, sangrar e ter cólicas todo mês. É ser julgada o tempo inteiro, às vezes não ser respeitada, ser a responsável pela perpetuação da espécie, carregar seres por 9 meses, amamentar, ser vista como fútil, fácil, falsa, fresca, volúvel, consumista... E ainda receber a alcunha de sexo frágil...”